A EXPRESSĂO artística e cultural Timbila,
proclamada pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura
(UNESCO) a 25 de Novembro de 2005, Património Oral e Imaterial da Humanidade,
foi atribuída esta segunda-feira o mais alto título honorífico da República de
Moçambique: a Medalha Bagamoyo.
A atribuição desta medalha é em reconhecimento da sua contribuição
sociológica no país e também para a consolidação da unidade nacional.
A cerimónia da entrega da medalha, que mereceu honras de Estado, foi
dirigida pelo Presidente Armando Guebuza, na vila de Quissico, distrito de
Zavala, no início da visita de trabalho em mais uma etapa da presidência aberta
que termina amanhã na província de Inhambane.
Escolhida de um total de 64 candidaturas submetidas à UNESCO, em 2005, para
o seu reconhecimento como obra patrimonial e intangível da humanidade, a
Timbila é originária da região dos Chopi, na zona sul da província de
Inhambane, sendo Quissico reconhecida como a sua capital.
Segundo o Presidente da República, o Estado decidiu atribuir igualmente o
tão honroso galardão, que ficará registado nos anais da história de Moçambique,
na memória de África e do mundo que o nosso país presta vénia à esta expressão
artística cultural e, por seu intermédio, ao conhecimento local subjacente à
construção tecnológica e melódica, bem como aos cidadãos que ao longo de
gerações asseguraram a sua vitalidade. Aqui está subjacente a sua
internacionalização como valioso contributo dos moçambicanos para a história e
civilização do mundo.
Armando Guebuza disse, durante a cerimónia que movimentou diversas
individualidades do país, da UNESCO, e membros do corpo diplomático acreditado
em Maputo, que ao longo da dominação colonial alguns compatriotas, de forma
engenhosa, serviram-se da Timbila para denunciar e resistir ao colonialismo
português.
Igualmente faziam a transmissão de valores nobres da moçambicanidade, de
educação social e de promoção da unidade nacional e da paz.
Enalteceu as instituições culturais e académicas, nacionais e estrangeiras
que se esmeram na criação dos fundamentos científicos indispensáveis para a
proclamação da Timbila como expressão artística nacional e internacional.
Na ocasião, o estadista moçambicano defendeu a necessidade de todos
fazedores da cultura unirem esforços para a preservação e valorização desta
cultura, através da protecção dos direitos autorais dos seus fazedores e
executantes, aprofundar a pesquisa e divulgarem as suas potencialidades nela incorporadas.
Guebuza exortou ainda para que se dinamize as indústrias culturais,
continuando, ao mesmo, a fazer a reposição dos efectivos do Mwenje, a planta
usada para o fabrico da Timbila, no contexto das Iniciativas Presidenciais “Um
Líder, uma floresta comunitária”, e “Um aluno, uma árvore em cada ano lectivo”.
“Ao prestarmos esta merecida homenagem à nossa Timbila, deixemo-nos banhar
desta manifestação emblemática da nossa cultura, hoje e sempre. De forma
inequívoca, o génio dos moçambicanos, o significado transcendental e sua
originalidade e dimensão universal mereceram o reconhecimento internacional”,
disse o Presidente Guebuza.
A Timbila, segundo Guebuza, apresenta-se com uma das emblemáticas
expressões da nossa moçambicanidade, contribuindo por isso ao lado de outras
expressões culturais, como fonte da auto-estima de todos, dando por isso razão
para repetir-se vezes sem conta que vale a pena sermos moçambicanos.
“A técnica do seu fabrico, a sua apresentação como produto musical e a sua
sonoridade singular, sublinham o nível de sofisticação do nosso povo e do
grande avanço tecnológico e conceptual que alcançou há milénios”, disse Armando
Guebuza, acrescentando que são esses atributos da Timbila que têm atraído
musicólogos e outros estudiosos para Zavala, onde realizam os seus trabalhos de
campo para testes académicos e para artigos de revistas de especialidades.
Convergem à vila de Quissico homens e mulheres das artes e culturas para se
deleitarem do M’Saho, uma actividade cultural que se realiza todos anos entre
27 e 28 de Agosto, para recolherem material fotográfico, áudio e visual para
produções literárias e outros estudos académicos.
Por causa do M’Saho, sublinhou o Presidente, Quissico tornou-se já um
centro do turismo cultural atraindo gente de todo mundo, homens e mulheres que
gostam da boa musica, tocada por executantes da primeira água.
INVESTIGAÇÃO NA FORJA
O Ministro da Cultura, Armando Artur, disse em Quissico durante a cerimónia
de entronização da Timbila que o Governo está a trabalhar na investigação de outras
expressões culturais e artísticas nacionais de forma a serem candidatas ao seu
reconhecimento pela UNESCO.
Trata-se de Utsi, de Sofala; Mapiko, de Cabo delgado; Tufo, de Nampula;
Xigubo e Marrabenta de Maputo e Gaza; e ainda Niketche, da Zambézia.
Aquele dirigente explicou que um dos requisitos fundamentais para que estas
expressões artísticas culturais sejam reconhecidas internacionalmente é
necessário que haja a nível nacional um trabalho de socialização destas artes
de forma a despertar atenção das agências internacionais.
Apoio para fomento do mwenje
Custódio Petola, 67 anos, residente na localidade de Mavila, foi um dos
fazedores da Timbila.
Bastante emocionado, Custódio Petola, casado e pai de oito filhos, disse
que uma das formas para imortalizar esta arte é investir-se muito, não só na
formação dos continuadores desta cultura nas escolas, mas também em outros
locais.
Entende ser importante apoiar aqueles que demonstram vontade de fomentar o
Mwenje, principal matéria-prima para o fabrico do tal valioso e cobiçado
instrumento.
“Eu tenho em Mavila onde vivo, cerca de um hectare de mwenje, mas preciso
de apoio de todos para aumentar a minha área de produção. Tenho muitas mudas
desta planta, mas faltam-me meios para transportar, regar e produzir melhor
esta importante árvore. Tenho planos de fazer uma escola não só para ensinar
fazer timbila, tocar e dançar, mas quero ensinar a produzir o mwenje porque no
dia que vamos ficar sem esta planta “era uma vez” timbila em Zavala e em todo o
país”, disse.