Alberto Costa e Silva, Prémio Camões-2014 |
Uma distinção justa a um nome que merece um reconhecimento maior. O poeta
brasileiro, memorialista, ensaísta e historiador especialista em África Alberto
da Costa e Silva foi o escolhido do júri, é ele o Prémio Camões 2014, a
distinção mais importante da criação literária em língua portuguesa.
Poeta e historiador, Alberto da Costa e Silva foram distinguidos por
unanimidade com o prémio mais importante da criação literária em língua
portuguesa.
O escritor Mia Couto, o último premiado, diz que o brasileiro faz o
trabalho de resgatar a memória de África “com arte e elegância”.
A escolha pode constituir uma surpresa para alguns (e foi-o para o próprio)
mas a decisão foi tomada em unanimidade, anunciou o júri na última sexta-feira.
Alberto da Costa e Silva, de 83 anos, sucede assim ao moçambicano Mia
Couto, vencedor do Prémio Camões 2013.
“Mantendo a mesma elevada qualidade literária em todos os géneros que
praticou, a sua refinada escrita costurou uma obra marcada pela
transversalidade”, começou por dizer Affonso Romano de Sant’Anna, presidente do
júri, que leu a acta da decisão do prémio aos jornalistas.
“A obra de Alberto da Costa e Silva é também uma contribuição notável na
construção de pontes entre países e povos de língua portuguesa”, continuou o
brasileiro.
Questionado sobre a escolha do historiador, Affonso Romano de Sant’Anna
explicou que para se chegar ao premiado foram vários os nomes falados, o
processo de escolha “passou de alguma maneira em revista o que nós sabemos da
cultura brasileira, portuguesa e africana mas fixou por unanimidade no nome de
Alberto Passos Silva, um exemplar dessa cultura”.
Para o académico e escritor brasileiro António Carlos Secchin, que integrou
o júri deste ano, Alberto da Costa e Silva "é um escritor que estuda a
História". "Quando se pensa num discurso do historiador muitas vezes
não se atenta também para a qualidade literária desse discurso e o Alberto da
Costa e Silva consegue ser um escritor antes de tudo", defendeu Secchin,
destacando ainda "as qualidades superiores" do premiado. "Espero
que a esta distinção corresponda uma projecção do nome dele", acrescentou
ainda o jurado para quem Alberto da Costa e Silva "merece ser reconhecido
como um dos maiores intelectuais vivos" do Brasil. "O desejo do júri
foi expandir o conhecimento da sua obra para um universo lusófono bem maior do
que aquele em que ele é actualmente conhecido."
Numa breve conversa telefónica a partir Brasil, com algumas interferências
na ligação por não se encontrar em casa e estar ao telemóvel num sítio sem as melhores
condições acústicas, o historiador disse que “foi com grande surpresa” que
recebeu a notícia de que lhe tinha sido "outorgado" o Prémio Camões
2014 já que não estava nas suas "cogitações". “Um prémio que tem sido
instituído aos maiores escritores de língua portuguesa”, acrescentou. “De
maneira que foi com grande surpresa, com perplexidade mesmo, só depois é que me
dei conta que devia ter manifestado minha alegria e meu grande orgulho por essa
alta distinção que me foi agora dada."
Além de Affonso Romano de Sant’Anna e António Carlos Secchin, integraram o
júri desta 26ª edição o premiado do ano passado, Mia Couto, em representação de
Moçambique, o escritor angolano José Eduardo Agualusa, Rita Marnoto, professora
associada da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e José Carlos
Vasconcelos, director do JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias.
Alberto Costa e Silva, nascido em São Paulo em 1931, foi embaixador do
Brasil em Portugal. Papel destacado pelo director do Jornal de Letras.
"Nos seus dois volumes de memória, até agora publicados, o segundo tem uma
parte que é exactamente passada em Portugal", lembrou José Carlos
Vasconcelos. "É um excelente testemunho sobre um período da história de
Portugal."
O brasileiro, africano e português
O escritor angolano José Eduardo Agualusa afirma que este "é um prémio
também para África". "Para um africano não é possível passar ao lado
de Alberto", disse Agualusa, acrescentando depressa: "É um brasileiro
que é também africano". "E português", soma ainda José Carlos
Vasconcelos. Agualusa destacou ainda a poesia deste historiador. "É uma
poesia que me acompanha desde há muito tempo e que tem também a ver com
África", explicou. "Alberto da Costa e Silva nunca deixou de ser um
poeta mesmo quando foi um historiador."
A poesia de Costa e Silva não é uma poesia extensa, defendeu a académica
Rita Marnoto, "mas por si poderá ser considerada enquanto momento
simbólico de todas as facetas" deste escritor brasileiro. É uma
"poesia fundamental, essencial", destacou ainda a jurada.
Já o escritor moçambicano Mia Couto diz que Alberto da Costa e Silva faz o
trabalho de resgatar a memória de África "com arte e elegância".
"É um poeta que está a escrever" reagiu o anterior premiado,
acrescentando que o que "se está a premiar aqui não é só o trabalho de
alguém que caminha pela história e pela reconstituição do passado mas que faz
isso com qualidade literária". Mia Couto mostrou-se ainda
"grato", como escritor africano, pelo trabalho que Alberto da Costa
tem vindo a desenvolver.
In Jornal Público
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