Autor
tanzaniano analisa papel desempenhado pelo regime de Nyerere
Processo de Nachingwea organizado pela
Frelimo
O Reverendo Uria Simango, uma das
proeminentes figuras políticas presentes nos famigerados julgamentos de
Nachingwea, foi raptado no Malawi por agentes da Frelimo que “trabalhavam em
estreita colaboração com a polícia política tanzaniana, Usalama wa Taifa (UwT)”
Os julgamentos de Nachingwea surgiram
na esteira de três outros, organizados pelo regime de Nyerere. O julgamento em
massa de Nachingwea foi o maior de todos e que à semelhança dos anteriores teve
como principal objectivo “humilhar publicamente os prisioneiros antes da sua
execução; talvez como aviso dirigido aos que se opunham à política da Frelimo”,
refere ainda Ludovick S. Mwijage, autor do livro “Julius K Nyerere – Servant of
God or Untarnished Tyrant”.
O papel desempenhado pelo regime de
Julius Nyerere naquilo que já é conhecido em instâncias de Direito
internacional como o “Processo de Nachingwea” é um dos temas tratados num livro
acabado de publicar com o título, “Julius K Nyerere – Servant of God or
Untarnished Tyrant”. O autor, Ludovick S. Mwijage, faz um historial dos
chamados julgamentos de Nachingwea, organizados pela Frelimo em estreita
colaboração com as autoridades tanzanianas no antigo centro de preparação
político-militar da Frente de Libertação de Moçambique, situado em território
tanzaniano.
Antigo prisioneiro político, que chegou
a estar detido no campo de detenção de Oyster Bay, em Dar-es-Salam, Mwijage
refere que os julgamentos de Nachingwea surgiram na esteira de três outros,
organizados pelo regime de Nyerere. O julgamento em massa de Nachingwea,
segundo narra o autor, foi o maior de todos e que à semelhança dos anteriores
teve como principal objectivo “humilhar publicamente os prisioneiros antes da
sua execução; talvez como aviso dirigido aos que se opunham à política da
Frelimo”.
Ludovick S. Mwijage afirma que o
Reverendo Uria Simango, uma das proeminentes figuras políticas presentes nos
famigerados julgamentos de Nachingwea, foi raptado no Malawi por agentes da
Frelimo que “trabalhavam em estreita colaboração com a polícia política
tanzaniana, Usalama wa Taifa (UwT)”. Acrescenta o autor: “Tal como nos
julgamentos em massa que precederam o de Nachingwea, o Reverendo Simango foi
forçado a ler em público uma confissão redigida, na qual ele implica a sua
pessoa e as de outros no assassinato do Dr. Mondlane.”
O autor salienta ser “difícil discernir
como é que uma tal ‘confissão’ poderia ter sido extraída de Simango (ou dos
demais prisioneiros) sem recurso à coação, especialmente ao se examinar as
circunstâncias envolvendo o seu afastamento da Frelimo e, o que é crucial, a
forma como foi raptado do exílio”. E autor frisa que a tortura, como forma de
se extraírem confissões, era uma prática rotineira na Tanzânia , país em que o
Reverendo Simango foi interrogado antes de ter comparecido nos julgamentos em
massa de Nachingwa.
O Inferno na Terra
O destino dado às vítimas do Processo
de Nachingwea, que para além de Uria Simango incluíam pessoas como Joana
Simeão, Paulo Gumane, Eugénio Zitha, Arcanjo Faustino Kambeu e Gwengere, foi
outro dos temas abordados pelo autor do livro a que temos vindo a fazer
referência. “Os campos de reeducação para onde as vítimas de Nachingwea foram enviadas,
eram uma reminiscência dos Gulags de Joseph Stalin. Milhares de pessoas foram
desterradas para esses campos e muitos deles não saíram de lá com vida durante
o regime tirânico de Machel”, escreve o autor. Debruçando-se sobre as condições
prevalecentes nesses redutos, o autor cita o Coronel Mbuta das Forças Populares
de Defesa da Tanzânia (TPDF) que em 1978 visitou alguns dos campos de
reeducação instituídos pelo regime da Frelimo em Moçambique. Em conversa amena
durante uma recepção no Hotel Turismo (actualmente Hotel IBIS) em Maputo, o
Coronel Mbuta frisou que esses redutos “não deviam ser confundidos com campos
de férias. Eles são como o inferno na terra”.
O autor de “Julius K Nyerere – Servant
of God or Untarnished Tyrant” tentou obter depoimentos de entidades oficiais
moçambicanas directamente ligadas ao Processo de Nachingwea a fim de esclarecer
as circunstâncias da prisão e posterior execução de pessoas como Celina Simango
e Lúcia Casal Ribeiro. Entre as entidades abordadas por Ludovick S. Mwijage
conta-se o coronel na reserva, Sérgio Vieira. Numa carta enviada a Sérgio
Vieira por correio electrónico, com a data de 17 de Julho de 2010, o autor
recordou que “o destino das vítimas havia sido selado na Tanzânia”; que “não
teriam sido mortas se o regime de Nyerere não as tivesse entregue à direcção da
Frelimo”; e que esse mesmo regime “não havia recusado dar permissão para que os
julgamentos em massa decorressem em território tanzaniano”; para além de ter
“concedido apoio logístico para transportar os prisioneiros para a sua iminente
morte”.
Em resposta à missiva do autor de
“Julius K Nyerere – Servant of God or Untarnished Tyrant”, Sérgio Vieira,
criando um precedente em Direito, afirmou em tom lacónico: “Como pessoa privada
que deixou de fazer parte do governo em 1987, não estou em posição de
responder. Queira
fazer o favor de contactar o governo.”
13/12/2010- CanalMoz
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