A REVOLUÇÃO
SUL-AFRICANA
Por Analúcia Danilevicz Pereira
Sinopse
Carregada de mitos, a história da Revolução
Sul-Africana, que levou ao poder o Congresso Nacional Africano (CNA) sob a
liderança de Nelson Mandela, em 1994, é ainda pouco conhecida. A transição do
regime do apartheid para a democracia, por exemplo, não foi pacífica. Além
disso, embora tenha melhorado a situação social dos negros, o novo governo não
conseguiu eliminar os privilégios da minoria branca. Por fim, uma espécie de
reação conservadora tenta, hoje, conferir significado mais positivo ao regime
racista e atudo que ele representou, enquanto busca desmoralizar o CNA por sua
incapacidade de conquistar mais estabilidade política e combater com
efetividade a corrupção, desconsiderando que estas são dificuldades comuns às
jovens democracias.
Nesta obra, a autora remonta ao processo de
colonização da África do Sul por holandeses, franceses e ingleses no século 17,
reconstruindo a partir daí as raízes do regime racista, quedeu origem à
revolução enraizada em condições históricas peculiares - a contradição entre
classe e raça. Ela também mostra como, nesse cenário, emerge sua liderança
máxima, Nelson Mandela, explicitando a trajetória ainda pouco conhecida do
político que se tornaria modelo mundial de resistência.
Um dos momentos decisivos para a consolidação do
regime foi a vitória britânica nas guerras bôeres, entre o fim do século 19 e o
começo do século 20. AGrã-Bretanha anexou os estados independentes que aqueles
fazendeiros brancos, de origem holandesa, haviam estabelecido no oeste, já
então minerador. Empobrecidos, eles passaram a pregar o nacionalismo africâner
- contra os invasores ingleses e os nativos. Lançavam-se assim os fundamentos
do racismo, que o sistema de exploração mineral empregado pelos britânicos,
contrapondo trabalhadores brancos e negros, ajudou a sedimentar.
O nacionalismo africâner culminaria com as
legislações segregacionistas no começo do século 20, ganharia elementos fascistas
e resultaria na instituição, em 1948, do regime do apartheid, do qual os países
industrializados se tornariam cúmplices. Estava posto naquele momento o
ambiente para uma reação mais agressiva por parte dos negros, que na verdade
começaram muito cedo a se organizar, embora pacificamente, contra o regime - em
2012 o CNA, o movimento de libertação mais antigo, completou 100 anos.
A luta armada como ação política passou a fazer
parte da estratégia dos movimentos de libertação da África do Sul no início dos
anos 1960. As negociações entre o CNA e o Partido Nacional só se tornaram
possíveis a partir do fim da Guerra Fria, quando ambas as partes se
enfraqueceram, já que o governo tinha apoio do bloco ocidental e os
revolucionários, da União Soviética.
Atualmente, após quase 20 anos da transição
democrática, a sólida estrutura erguida pelo apartheid permanece nas bases
sociais e econômicas da África do Sul e continua dificultando o acesso
igualitário da maioria da população aos recursos econômicos do país. O grande
desafio, diz a autora, é aprimorar a ainda frágil democracia.
Sobre o autor
Analúcia Danilevicz Pereira
Professora do Programa de Pós-Graduação em Estudos
Estratégicos Internacionais da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul e pesquisadora do Centro de Estudos Brasil-África do Sul, da
mesma instituição.
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