CÚPULA RESIDUAL DOS “LIBERTADORES” EMPERRANDO
PROCESSOS E DESENVOLVIMENTO
- Elitismo doentio e lesa-pátria cegando
“libertadores”
Beira
(Canalmoz) - Custa dizer e por vezes é difícil de compreender como quem se
empenhou tanto na luta anticolonial tenha enveredado por caminhos tão
diferentes logo que se guindou ao poder.
Gente
que modestamente chegou à zona dominada pelo sistema colonial logo se
transformou e se transfigurou. De verticalidade ou de afirmações coerentes com
uma causa que todo um povo abraçava e defendia rapidamente se viu “camaradas”
optarem por caminhos escusos da prepotência e arrogância.
O
facto de terem participado na luta anticolonial colocou-se acima de seus
concidadãos e paulatinamente constituíram-se numa classe especial de cidadãos
da república tão bem recebida.
De
“camaradas” a quem se podia dizer “bom-dia” e receber-se resposta fácil
passamos a ver os mesmos “camaradas” se distanciando do povo que diziam “amar,
defender e proteger”.
Conversa
fiada logo se viu. O que queriam e concretizaram, afinal substituírem na
íntegra o colono no poder, seu sistema e continuar a fazer o mesmo senão
nalguns casos, muito pior que os colonialistas.
Daí
para uma situação de contradições que desembocaram numa guerra violenta não
passaram muitos anos.
Convenhamos
que a situação regional e internacional era complicada, governadas por agendas
muitas vezes concebidas e implementadas por outros no quadro de uma
confrontação à escala global historicamente como “guerra-fria”. Como peões
convencidos de que estavam governando o novo país muitos, na impossibilidade ou
incapacidade de fazer uma leitura concreta do que havia em jogo, acabaram por
defraudar as esperanças de todo um povo sofrido.
Se não
tem sido a teimosia doentia e crónica, alguma megalomania incipiente,
disfarçada de militância revolucionária Moçambique não teria sofrido os
horrores da guerra. Os moçambicanos ter-se-iam entendido e compreendido que não
eram as diferentes ideologias em voga que os separavam.
O que
se vive hoje é a continuação de posicionamentos algumas vezes camuflados e
outras vezes quando é oportuno abertamente assumidos por actores políticos
“desnorteados”.
Já
muitos moçambicanos pereceram advogando a tolerância política e um espírito
patriótico capaz de unir verdadeiramente cidadãos de um mesmo país.
Quando
se espera pro manifestações conducentes a normalização política no país o que
nos é dado a observar são teses de um passado monolítico e voraz.
Afinal
o AGP está-se revelando uma encenação que visava a manutenção do poder por uns
e a contínua subordinação de outros, da maioria.
Os
desafios na frente económica, na consolidação da democracia política estão sendo
propositadamente adiados porque há indivíduos pertencentes a uma “casta” sem
interesse algum que alterações aconteçam no status.
Quando
a elite política de um país não consegue ver acima de seus interesses
materiais, sua posição na hierarquia governante estão criadas as condições para
a emergência e proliferação de travões à corrente de desenvolvimento.
Importa
entender o ambiente prevalecente, as reivindicações da Renamo, o conteúdo das
declarações do Conselho Episcopal da Igreja Católica em Moçambique, as
entrevistas de conceituados académicos e as mensagens de inúmeros moçambicanos
como forma de negação de um ordenamento político e económico sofrível,
desgastante e contraproducente.
Algum
traquejo e experiência manipulativa acabam por esgotar sua utilidade e
denunciar-se face a uma percepção crescente dos cidadãos e forças políticas.
A
democracia num país é um processo que acontece de forma prática, sob respeito
de preceitos que a caracterizam e jamais através de manobras dilatórias e de
arranjos particulares entre figuras políticas.
O que
os moçambicanos desejam é que seus governantes e políticos se assumam coerentes
com o que apregoa. Basta de entrarem e jogos que visam ultimamente garantir a
sua contínua preponderância.
Moçambique
não se pode dar ao luxo de alimentar uma elite que se tem mostrado parasita e
sem ideias claras quanto aos destinos e forma de conduzir os moçambicanos a
destinos dignos e honráveis.
Este
país é dos moçambicanos e não unicamente da elite que constitui a liderança
política e governamental.
A
transição que alguns fazem do mundo governamental para a banca, empresas
públicas, empresas privadas e holdings privadas faz parte de um processo
similar ao que acontece em todo o mundo só que entre nós as coisas sucedem-se
sem observância de critérios éticos e morais mínimos.
Chegou
a altura dos moçambicanos rejeitarem com toda a firmeza a continuação de um
sistema que consubstancia nepotismo em cada passo e esquina.
A
“dumbanenguização” da política, o clientelismo, o tráfico de influências, a
tristemente chamada “confiança política” roeram o tecido social nacional e
colocaram o país numa posição incomoda, instável e perigosa.
Políticos
um tanto ou quanto fossilizados e de orientação política retrógrada continuam
recebendo espaço especial na comunicação social pública e privada e
aproveitando-se de um passado de protagonismo na arena política nacional
consideram-se perenes, insubstituíveis, proprietários únicos da verdade.
Senhoras
e senhores, a reforma no aparelho do Estado existe e na política também o mesmo
se passa. Quando um funcionário atinge uma certa idade vai para a reforma e os
titulares de cargos públicos sujeitos a eleição também obedecem a regras quanto
a sua elegibilidade e mandatos. Uma vez impedidos de estarem no activo as
pessoas retiram-se e deixam campo aberto para novos titulares eleitos e
funcionários em geral no aparelho do Estado.
É
pouco elegante e manifestação de corrosão de um executivo que figuras do
passado continuamente se imiscuam nos assuntos do presente na política
nacional.
O
antigo PR, Joaquim Alberto Chissano, tem de fazer como George W. Bush, Nicolas
Sarkozy, Nelson Mandela e outros antigos chefes de Estado que se colocam
efectivamente na reforma, deixando campo e espaço para que seus substitutos
exerçam suas responsabilidades livres de “sombras”.
Se
Moçambique atravessa uma fase de convulsões de ordem política tem de haver a
sensibilidade de refrear ânimos e encetar todo o tipo de esforços para
aproximar posições e não radicalizar a situação.
Erros
e percepção ou de expressão, apresentação indevida de factos ou de posições não
devem constituir barreira para que conteúdos não se discutam.
Quando
é o interesse dos milhões de moçambicanos que está em jogo os enfeites
discursivos, as jogadas maquiavélicas, a arrogância, a intolerância política
devem ser postos fora da mesa e jogados no caixote de lixo.
Não se
trata de ceder por ceder mas aceitar que este país não pode andar para a frente
com tanto desequilíbrios, desestruturação e um ordenamento político que mina a
democracia.
É
nesse sentido que se chama e se clama pela experiência e sabedoria de pessoas
como Joaquim Chissano. Com clareza, frontalidade, verticalidade é possível
entendermo-nos e resolvermos as disputas e percalços de nosso processo
histórico e político.
Pela
paz somos todos obrigados a dar o nosso máximo… (CanalMoz, 22 de Novembro de 2012, Noé Nhantumbo).
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