Carta aberta ao Presidente da República e
da Frelimo
“Nunca corte o que
você puder desatar” – Joseph Joubert
Wiliam James costumava pregar a «vontade de acreditar». Pela nossa parte, nós cidadãos atentos,
gostaríamos de pregar «o desejo de
duvidar.» Aquilo que é preciso não é vontade de acreditar mas o desejo de
descobrir que é exactamente o contrário. Permita-nos, senhor Presidente, que em
nome de todos os Cidadãos Atentos deste país, o saudemos primeiro pelo seu
trabalho e, segundo, que nos conceda a “licença democrática” para escrever as
linhas que se seguem. Era uma vez, senhor Presidente, dois países no Estado moçambicano:
Um chamava-se Moçambique e outro Frelimo de Guebuza. Às vezes os dois parecem-se um só, mas
isso está claro que não passa de uma mera ilusão de óptica criada pelos
chineses e pelos ocidentais e evidentemente pelas multinacionais que projectam
a suas sombras ampliadoras sobre Moçambique, de tal modo que parecem mais
importantes do que realmente são. O país da Frelimo, sim, da Frelimo de Samora,
Chissano, a vossa Frelimo, tem a idade dos cartões de abastecimento, dos
fuzilamentos sem justa causa, dos assassinatos sem rosto e nós, seus cidadãos,
principalmente os atentos, estamos, primeiro já cansados da vossa história mal contada
e de palavras como “Bandido Armado”, “Futuro Melhor”, “Força da Mudança” e,
segundo, cansados de competir convosco, a Frelimo de Guebuza, e de tentar parecer
maior do que vocês! No entanto, temos a certeza de que em breve, o Povo moçambicano
se reunirá do Maputo ao Rovuma e pronunciará a única palavra mágica que vocês
não conseguem suportar – a palavra NÃO – e assim os anos de faz de conta
chegarão ao fim e o país da Frelimo de Guebuza será desfeito e um novo país
tomará o seu lugar. Tudo dependerá, senhor Presidente, de uma reunião que terá lugar
dentro de dias. É estranho, senhor Presidente, que o primeiro a prevenir Moçambique
no tempo de Samora, quando o país caminhava na ilusória segurança atrás da
linha entre o maoismo do tipo Deng Xiao Ping e o marxismo do tipo stalinista –
foi o senhor e agora na sua liderança está entre uma espécie de mitológica
linha entre o capitalismo selvagem e socialismo selvagem, atrás da qual repousa
um país despreparado para enfrentar um mundo de moderna tecnologia e poderio
económico assim como estava despreparada a Frelimo de 1980 para a guerra contra
a Renamo. Mas o certo é que o senhor Presidente, com a sua presença, sempre
teve o quase fantástico dom de impedir que o Povo percebesse a diferença entre
os dois países – Moçambique e Frelimo de Guebuza. Em 1990, embora o país
estivesse destroncado economicamente, com muitos moçambicanos apoiando a
política do General Dlhakama, o senhor conseguiu convencer esses aliados do
General de que Moçambique é igual a Frelimo. Falou desde 2004 em nome de
milhões de moçambicanos que nem sequer sabiam que existe mas cometeu um erro:
formou o seu governo com os melhores apanha-bolas do Governo da outra Frelimo.
Quer dizer, não se preparou convenientemente para assumir a cadeira de Estado
mas sim para assumir a cadeira partidária. Naqueles primeiros dias trágicos, o
senhor era um homem que criou muitas expectativas, um homem que de certo modo
tinha determinado apoio popular – mas graças à sua autoconfiança e inabalável
determinação, em pouco tempo o senhor transformou a expectativa aos olhos do
Povo em desilusão. Caso único na
história: um político “exilado internamente” na primeira República que
conquistou à custa das fraquezas da liderança da segunda República, o seu próprio
país – a Frelimo de Guebuza. Em 2004, o senhor era talvez a figura mais
credível para colocar Moçambique no rumo certo e moderno. Só que o senhor se
deixou levar pela palavra “empresário de sucesso”. Agora, depois de tanto
tempo, nós cremos, senhor Presidente, que a sua demissão pelo povo moçambicano significaria
algo mais que a sua decisão de permanecer como Presidente da Frelimo. Para muitos o senhor não deve continuar a
alimentar ilusões quanto à sua permanência de governar Moçambique a partir da
Frelimo. É altura de deixar o poder para ir tomar conta dos seus netos e
negócios. O Povo sente que a sua saída voluntária é um sinal de que, na era de Internet,
os “grandes líderes” estão a ficar obsoletos. É que a sua presença no leme de
Moçambique já faz cada vez menos sentido, porque as suas prioridades já se
confundem com negócios e política, e isso é incompatível com as inspirações do
Povo e com um mundo em que a técnica das soluções económicas tende cada vez
mais a assumir o poder, independente de toda a ideologia e toda a política. O
Povo quer coisas práticas. Ter saúde, boa alimentação e educação, coisas
possíveis que o seu país – Frelimo – pode conceder ao Povo, naturalmente. Depois,
é bem possível que a posteridade venha a considerar o senhor como o maior
paradoxo do nosso tempo. Será que o capitalismo é a solução para o socialismo democrático?
Nós, cidadãos atentos, já descobrimos atempadamente que a diferença entre o
socialismo e o capitalismo está assente não só nos lucros excessivos do segundo
mas está na influência social que o acompanha e que tende a aumentar. Senhor
Presidente, o que o socialismo da Frelimo quer, entenda-se, é precisamente
apanhar ambas as coisas. O lucro e a influência pois nesta fase, o seu país, a
Frelimo como partido de índole socialista, acumulou e acumula todo o tipo de
riqueza e influência mas descarrilou nos excessos. Perdeu-se entre os caminhos
do capitalismo e socialismo. Depois, como se dedica inteiramente ao seu país
histórico, político e mitológico – essa “Pérola do Índico” (Frelimo), como o
senhor o denomina – o senhor fez mais do que qualquer outra figura nacional
para romper com o seu próprio passado histórico e cultural. Temos consciência
de que o senhor está a dar liberdade político-empresarial aos seus tentáculos
para “capitalizar” Moçambique para resolver o problema do seu país – Frelimo de
Guebuza. Por exemplo, quando o senhor Presidente se encontrou com o “Movimento
muçulmano” estava a pensar em “tentáculos”. O encontro abriu um precedente
grave e altamente perigoso. Porque é que nunca quis reunir-se com os
Desmobilizados de Guerra, Madgermanes, trabalhadores dos Caminhos-de-Ferro e em
menos de 48 horas depois de uma ameaça à “greve empresarial” fez o que todo o Povo
pensava que não iria fazer, ou seja, reuniu-se com o “Movimento”? Para nós,
senhor Presidente, isso significou uma grande fraqueza, afinal de contas, o seu
calcanhar de Aquiles deve ser um segredo muito importante que o “Movimento” possui
e que pode ser divulgado a qualquer momento. Ora, se com a sua atitude queria
demonstrar que os muçulmanos lhe ficassem gratos e seguissem a sua orientação política,
pode ter a certeza de que poderá ficar frustrado pois eles já consultaram os
seus livros sagrados e concluíram que o senhor não é nenhum “Maomé”, é simplesmente
um Presidente do seu país – Frelimo de Guebuza. O senhor esquece-se de que
contribuiu no passado para que a Constituição da Republica do pais – Moçambique
– fosse um instrumento que espelhasse as aspirações democráticas do Povo. Como
é que agora, incompreensivelmente, pais – Frelimo de Guebuza – para poder mudar
também a nossa Constituição? Para que fins? Será que pretende pôr fim às
“brincadeiras políticas” da sua oposição interna porque a externa já a colocou
no “bolso democrático”? O senhor Presidente sempre foi acusado desde o tempo do
“24 horas-20 kilos” de ser anti-ocidental. No entanto, o maior serviço que hoje
presta ao seu país – Frelimo de Guebuza – recolhendo recursos de outro país –
Moçambique – é enriquecer o Ocidente e empobrecer as futuras gerações. E,
agora, senhor Presidente, vamos de certeza absoluta, depois da realização do
10° Congresso do seu país – Frelimo de Guebuza – dar uma boa risada lembrando que
as suas “ambições ditatoriais” foram confirmadas. O que vai restar amanhã,
dessas “ambições”? Sabemos que o capitalismo durante a Luta Armada de
Libertação Nacional sempre o repugnou. Como é que agora está aliado
grosseiramente ao capital estrangeiro? Estará a pensar no desenvolvimento de
Moçambique, no lucro ou na influência sociopolítica? Sabemos que tem, senhor
Presidente, todas as suas raízes profundamente cravadas no marxismo maioista ao
estilo Deng Xiao Ping – uma Nação com dois sistemas (capitalismo e socialismo).
Temos a plena consciência de que foi o senhor que cortou o esquema do
paroquialismo marxista tradicional – quebrou o centralismo democrático – fila
pelo poder, de facto não era a sua vez de liderar o seu país – a Frelimo – era
a vez do General Alberto Chipande. Essa situação foi vista como uma “reforma” embora
seja hoje acusado de concentrar demasiado o poder, e é exactamente o seu
esforço para manter essa concentração que lhe causará brevemente a sua derrota.
É que para os quadros e militantes do seu país – reforma é algo popular como
reformar nipa. Senhor Presidente, nós cidadãos atentos temos a certeza absoluta
de que não dorme seguro porque se aproxima o ano de 2014. Um dia, vai ter que
deixar a Ponta Vermelha, é uma certeza. Porque é que quer perpetuar-se no
poder? Porque é que o seu secretário-geral diz as barbaridades políticas que
diz? Qual é a intenção? Porque é que quer cortar a tradição do seu país –
Frelimo?! Porque é que agora quer sobrepor o valor individual ao colectivo? O
senhor por acaso foi escolhido porque Chissano o escolheu como seu sucessor?
Depois da morte de Mondlane como foi? Depois da morte de Samora como foi? Temos
a certeza de que foi o colectivo que o escolheu com a anuência da “quadrilha
política”, ou não foi? Porque é que agora tem que ser diferente? Reformas? Parece-nos
que não é isso? Senhor Presidente, diz um provérbio popular que os prudentes
falam porque têm algo a dizer e os insensatos
porque gostariam de dizer qualquer coisa. Portanto, deixe
que os seus camaradas escolham o seu sucessor agora no Congresso para
desanuviar as vossas tensões internas. Não se intrometa pois se o vier a fazer,
futuramente vai pagar muito caro. Se no tempo de Chissano prendia-se somente
directores, hoje no seu tempo prende-se ministros e no tempo do seu sucessor a
quem se vai prender? Presidentes da República, disso não tenha dúvidas e para o
seu caso, esses seus camaradas que um dia traíram Chissano, caso não se
comporte bem no Congresso, a partir de 2015 vai iniciar o seu “julgamento
político atacando a sua filha,
perceba isso. Para tirar Chissano do poder atacaram politicamente
o seu filho, quem não se lembra disso? O modus operandi é o mesmo. Fala-se
agora de Nympine? Bastou o pai sair do poder para não mais se falar dele! Nós,
cidadãos atentos, sabemos porque é que afirmamos isso. Fomos nós que publicámos
a programação da sua Presidência Aberta em Inhambane que por prudência o senhor
alterou. Assim como está a reagir, o senhor corre sérios riscos de levar um
golpe de Estado, disso não tenha dúvidas e porquê?....Porque se esqueceu de que
os conflitos internos são de base dupla. Primeiro, porque as pessoas designadas
para novos cargos precisam de reconhecer que os conflitos são internos e,
segundo,
precisam de certificar-se de que as suas acções baseiam--se
na realidade. As acções do seu país – Frelimo de Guebuza - não são reais. Depois,
as ordens que dá não são cumpridas! Porquê? Porque não tem na sua posse todos
os factos pertinentes, daí que não tenha controlo sobre as decisões de comando porque
não tem acesso à execução e à sua respectiva operacionalidade. Por isso mesmo
notamos, senhor Presidente, este anarquismo pessoal, partidário e executivo.
In: Jornal A verdade
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