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Caros amigos o blog Historiando: debates e ideias visa promover debates em torno de vários domínios de História do mundo em geral e de África e Moçambique em particular. Consta no blog variados documentos históricos como filmes, documentários, extractos de entrevistas e variedades de documentos escritos que permitirá reflectir sobre várias temáticas tendo em conta a temporalidade histórica dos diferentes espaços. O desafio que proponho é despolitizar e descolonizar certas práticas historiográficas de carácter eurocêntrico, moderno e ocidental. Os diferentes conteúdos aqui expostos não constituem dados acabados ou absolutos, eles estão sujeitos a reinterpretação, por isso que os vossos comentários, críticas e sugestões serão considerados com muito carinho. Pode ouvir o blog via ReadSpeaker que consta no início de cada conteúdo postado.

21 setembro 2012

Carta aberta ao Presidente da República e da Frelimo


Carta aberta ao Presidente da República e da Frelimo


Nunca corte o que você puder desatar” – Joseph Joubert

Wiliam James costumava pregar a «vontade de acreditar». Pela nossa parte, nós cidadãos atentos, gostaríamos de pregar «o desejo de duvidar.» Aquilo que é preciso não é vontade de acreditar mas o desejo de descobrir que é exactamente o contrário. Permita-nos, senhor Presidente, que em nome de todos os Cidadãos Atentos deste país, o saudemos primeiro pelo seu trabalho e, segundo, que nos conceda a “licença democrática” para escrever as linhas que se seguem. Era uma vez, senhor Presidente, dois países no Estado moçambicano: Um chamava-se Moçambique e outro Frelimo de  Guebuza. Às vezes os dois parecem-se um só, mas isso está claro que não passa de uma mera ilusão de óptica criada pelos chineses e pelos ocidentais e evidentemente pelas multinacionais que projectam a suas sombras ampliadoras sobre Moçambique, de tal modo que parecem mais importantes do que realmente são. O país da Frelimo, sim, da Frelimo de Samora, Chissano, a vossa Frelimo, tem a idade dos cartões de abastecimento, dos fuzilamentos sem justa causa, dos assassinatos sem rosto e nós, seus cidadãos, principalmente os atentos, estamos, primeiro já cansados da vossa história mal contada e de palavras como “Bandido Armado”, “Futuro Melhor”, “Força da Mudança” e, segundo, cansados de competir convosco, a Frelimo de Guebuza, e de tentar parecer maior do que vocês! No entanto, temos a certeza de que em breve, o Povo moçambicano se reunirá do Maputo ao Rovuma e pronunciará a única palavra mágica que vocês não conseguem suportar – a palavra NÃO – e assim os anos de faz de conta chegarão ao fim e o país da Frelimo de Guebuza será desfeito e um novo país tomará o seu lugar. Tudo dependerá, senhor Presidente, de uma reunião que terá lugar dentro de dias. É estranho, senhor Presidente, que o primeiro a prevenir Moçambique no tempo de Samora, quando o país caminhava na ilusória segurança atrás da linha entre o maoismo do tipo Deng Xiao Ping e o marxismo do tipo stalinista – foi o senhor e agora na sua liderança está entre uma espécie de mitológica linha entre o capitalismo selvagem e socialismo selvagem, atrás da qual repousa um país despreparado para enfrentar um mundo de moderna tecnologia e poderio económico assim como estava despreparada a Frelimo de 1980 para a guerra contra a Renamo. Mas o certo é que o senhor Presidente, com a sua presença, sempre teve o quase fantástico dom de impedir que o Povo percebesse a diferença entre os dois países – Moçambique e Frelimo de Guebuza. Em 1990, embora o país estivesse destroncado economicamente, com muitos moçambicanos apoiando a política do General Dlhakama, o senhor conseguiu convencer esses aliados do General de que Moçambique é igual a Frelimo. Falou desde 2004 em nome de milhões de moçambicanos que nem sequer sabiam que existe mas cometeu um erro: formou o seu governo com os melhores apanha-bolas do Governo da outra Frelimo. Quer dizer, não se preparou convenientemente para assumir a cadeira de Estado mas sim para assumir a cadeira partidária. Naqueles primeiros dias trágicos, o senhor era um homem que criou muitas expectativas, um homem que de certo modo tinha determinado apoio popular – mas graças à sua autoconfiança e inabalável determinação, em pouco tempo o senhor transformou a expectativa aos olhos do Povo em desilusão.  Caso único na história: um político “exilado internamente” na primeira República que conquistou à custa das fraquezas da liderança da segunda República, o seu próprio país – a Frelimo de Guebuza. Em 2004, o senhor era talvez a figura mais credível para colocar Moçambique no rumo certo e moderno. Só que o senhor se deixou levar pela palavra “empresário de sucesso”. Agora, depois de tanto tempo, nós cremos, senhor Presidente, que a sua demissão pelo povo moçambicano significaria algo mais que a sua decisão de permanecer como Presidente da Frelimo.  Para muitos o senhor não deve continuar a alimentar ilusões quanto à sua permanência de governar Moçambique a partir da Frelimo. É altura de deixar o poder para ir tomar conta dos seus netos e negócios. O Povo sente que a sua saída voluntária é um sinal de que, na era de Internet, os “grandes líderes” estão a ficar obsoletos. É que a sua presença no leme de Moçambique já faz cada vez menos sentido, porque as suas prioridades já se confundem com negócios e política, e isso é incompatível com as inspirações do Povo e com um mundo em que a técnica das soluções económicas tende cada vez mais a assumir o poder, independente de toda a ideologia e toda a política. O Povo quer coisas práticas. Ter saúde, boa alimentação e educação, coisas possíveis que o seu país – Frelimo – pode conceder ao Povo, naturalmente. Depois, é bem possível que a posteridade venha a considerar o senhor como o maior paradoxo do nosso tempo. Será que o capitalismo é a solução para o socialismo democrático? Nós, cidadãos atentos, já descobrimos atempadamente que a diferença entre o socialismo e o capitalismo está assente não só nos lucros excessivos do segundo mas está na influência social que o acompanha e que tende a aumentar. Senhor Presidente, o que o socialismo da Frelimo quer, entenda-se, é precisamente apanhar ambas as coisas. O lucro e a influência pois nesta fase, o seu país, a Frelimo como partido de índole socialista, acumulou e acumula todo o tipo de riqueza e influência mas descarrilou nos excessos. Perdeu-se entre os caminhos do capitalismo e socialismo. Depois, como se dedica inteiramente ao seu país histórico, político e mitológico – essa “Pérola do Índico” (Frelimo), como o senhor o denomina – o senhor fez mais do que qualquer outra figura nacional para romper com o seu próprio passado histórico e cultural. Temos consciência de que o senhor está a dar liberdade político-empresarial aos seus tentáculos para “capitalizar” Moçambique para resolver o problema do seu país – Frelimo de Guebuza. Por exemplo, quando o senhor Presidente se encontrou com o “Movimento muçulmano” estava a pensar em “tentáculos”. O encontro abriu um precedente grave e altamente perigoso. Porque é que nunca quis reunir-se com os Desmobilizados de Guerra, Madgermanes, trabalhadores dos Caminhos-de-Ferro e em menos de 48 horas depois de uma ameaça à “greve empresarial” fez o que todo o Povo pensava que não iria fazer, ou seja, reuniu-se com o “Movimento”? Para nós, senhor Presidente, isso significou uma grande fraqueza, afinal de contas, o seu calcanhar de Aquiles deve ser um segredo muito importante que o “Movimento” possui e que pode ser divulgado a qualquer momento. Ora, se com a sua atitude queria demonstrar que os muçulmanos lhe ficassem gratos e seguissem a sua orientação política, pode ter a certeza de que poderá ficar frustrado pois eles já consultaram os seus livros sagrados e concluíram que o senhor não é nenhum “Maomé”, é simplesmente um Presidente do seu país – Frelimo de Guebuza. O senhor esquece-se de que contribuiu no passado para que a Constituição da Republica do pais – Moçambique – fosse um instrumento que espelhasse as aspirações democráticas do Povo. Como é que agora, incompreensivelmente, pais – Frelimo de Guebuza – para poder mudar também a nossa Constituição? Para que fins? Será que pretende pôr fim às “brincadeiras políticas” da sua oposição interna porque a externa já a colocou no “bolso democrático”? O senhor Presidente sempre foi acusado desde o tempo do “24 horas-20 kilos” de ser anti-ocidental. No entanto, o maior serviço que hoje presta ao seu país – Frelimo de Guebuza – recolhendo recursos de outro país – Moçambique – é enriquecer o Ocidente e empobrecer as futuras gerações. E, agora, senhor Presidente, vamos de certeza absoluta, depois da realização do 10° Congresso do seu país – Frelimo de Guebuza – dar uma boa risada lembrando que as suas “ambições ditatoriais” foram confirmadas. O que vai restar amanhã, dessas “ambições”? Sabemos que o capitalismo durante a Luta Armada de Libertação Nacional sempre o repugnou. Como é que agora está aliado grosseiramente ao capital estrangeiro? Estará a pensar no desenvolvimento de Moçambique, no lucro ou na influência sociopolítica? Sabemos que tem, senhor Presidente, todas as suas raízes profundamente cravadas no marxismo maioista ao estilo Deng Xiao Ping – uma Nação com dois sistemas (capitalismo e socialismo). Temos a plena consciência de que foi o senhor que cortou o esquema do paroquialismo marxista tradicional – quebrou o centralismo democrático – fila pelo poder, de facto não era a sua vez de liderar o seu país – a Frelimo – era a vez do General Alberto Chipande. Essa situação foi vista como uma “reforma” embora seja hoje acusado de concentrar demasiado o poder, e é exactamente o seu esforço para manter essa concentração que lhe causará brevemente a sua derrota. É que para os quadros e militantes do seu país – reforma é algo popular como reformar nipa. Senhor Presidente, nós cidadãos atentos temos a certeza absoluta de que não dorme seguro porque se aproxima o ano de 2014. Um dia, vai ter que deixar a Ponta Vermelha, é uma certeza. Porque é que quer perpetuar-se no poder? Porque é que o seu secretário-geral diz as barbaridades políticas que diz? Qual é a intenção? Porque é que quer cortar a tradição do seu país – Frelimo?! Porque é que agora quer sobrepor o valor individual ao colectivo? O senhor por acaso foi escolhido porque Chissano o escolheu como seu sucessor? Depois da morte de Mondlane como foi? Depois da morte de Samora como foi? Temos a certeza de que foi o colectivo que o escolheu com a anuência da “quadrilha política”, ou não foi? Porque é que agora tem que ser diferente? Reformas? Parece-nos que não é isso? Senhor Presidente, diz um provérbio popular que os prudentes falam porque têm algo a dizer e os insensatos
porque gostariam de dizer qualquer coisa. Portanto, deixe que os seus camaradas escolham o seu sucessor agora no Congresso para desanuviar as vossas tensões internas. Não se intrometa pois se o vier a fazer, futuramente vai pagar muito caro. Se no tempo de Chissano prendia-se somente directores, hoje no seu tempo prende-se ministros e no tempo do seu sucessor a quem se vai prender? Presidentes da República, disso não tenha dúvidas e para o seu caso, esses seus camaradas que um dia traíram Chissano, caso não se comporte bem no Congresso, a partir de 2015 vai iniciar o seu “julgamento político atacando a sua filha,
perceba isso. Para tirar Chissano do poder atacaram politicamente o seu filho, quem não se lembra disso? O modus operandi é o mesmo. Fala-se agora de Nympine? Bastou o pai sair do poder para não mais se falar dele! Nós, cidadãos atentos, sabemos porque é que afirmamos isso. Fomos nós que publicámos a programação da sua Presidência Aberta em Inhambane que por prudência o senhor alterou. Assim como está a reagir, o senhor corre sérios riscos de levar um golpe de Estado, disso não tenha dúvidas e porquê?....Porque se esqueceu de que os conflitos internos são de base dupla. Primeiro, porque as pessoas designadas para novos cargos precisam de reconhecer que os conflitos são internos e, segundo,
precisam de certificar-se de que as suas acções baseiam--se na realidade. As acções do seu país – Frelimo de Guebuza - não são reais. Depois, as ordens que dá não são cumpridas! Porquê? Porque não tem na sua posse todos os factos pertinentes, daí que não tenha controlo sobre as decisões de comando porque não tem acesso à execução e à sua respectiva operacionalidade. Por isso mesmo notamos, senhor Presidente, este anarquismo pessoal, partidário e executivo. 

In: Jornal A verdade

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