DA CONSTRUÇÃO SOCIAL DAS ETNIAS
NO PERÍODO COLONIAL À FORMAÇÃO DE REDES
CLIENTELISTAS NOS ESTADOS AFRICANOS
Por Jorge Fernando Jairoce (Texto para debate)
Uma
das estratégias utilizadas para a dominação colonial em África logo após a
Conferência de Berlim foi a táctica de dividir para reinar, ou seja colocar as
várias unidades políticas locais ou as tribos locais a lutarem para entre si
com o intuito de fragilizá-los politicamente abrindo assim as possibilidades de
controle territorial. Uma vez dominadas, os colonialistas elaboraram uma
construção social das etnias, privilegiando o acesso ao poder, privilégios de
certas etnias e subestimando outras como
as mais frágeis e incapazes de realizarem determinadas tarefas do interesse
colonial a não ser por coação física (uso da violência física e trabalhos mais penosos)
- é o caso por exemplo da política colonial belga no Ruanda que criaram
condições de conflitos recentes entre os hutus e tutsis (para entender com mais
detalhes veja o filme Hotel Ruanda no arquivo do blog).
Assim,
os Estados Coloniais foram criando alianças com chefes locais considerados "grandes homens localmente" e incorporando etnicamente algumas unidades administrativas vinculadas à
população local criando um tipo de relações patrão-cliente. Isso foi reforçado por uma preocupação
burocrática com a demarcação territoral , busca de legitimidade política e sujeição das populações
locais. Daí que afirmo que as Etnias foram construidas
socialmente pelas elites coloniais que
procuravam a base para uma modernização conservadora. O interessante é que este legado colonial de autoritarismo burocrático
assentes nas relações patrão-cliente e numa dialética complexa de fragmentação
étnica, assimilação e competição tem persistido em sociedades pós-coloniais
africanas . Existem redes clientelistas na articulação Estado-Sociedade em vários países africanos apesar de nem
sempre serem de carácter étnico e isto tem a ver em parte com a racionalidade
patrimonialista dos Estados africanos e também com a savalguarda de interesses políticos (manutenção no poder). Assim, explica-se
o caráter personalista, materialista e oportunista do poder político em África originando em alguns casos os conflitos políticos. Essas redes também penetram nas instituições
da sociedade civil e da democracia liberal, minando consequentemente os vários programas de reforma sócio-econômica e
política. Assim, vai-se construindo os Estados-Nação em África.
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