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06 setembro 2012

DA CONSTRUÇÃO SOCIAL DAS ETNIAS NO PERÍODO COLONIAL À FORMAÇÃO DE REDES CLIENTELISTAS NOS ESTADOS AFRICANOS


DA CONSTRUÇÃO SOCIAL DAS ETNIAS NO PERÍODO COLONIAL  À FORMAÇÃO DE REDES CLIENTELISTAS NOS ESTADOS AFRICANOS


Por Jorge Fernando Jairoce (Texto para debate)

Uma das estratégias utilizadas para a dominação colonial em África logo após a Conferência de Berlim foi a táctica de dividir para reinar, ou seja colocar as várias unidades políticas locais ou as tribos locais a lutarem para entre si com o intuito de fragilizá-los politicamente abrindo assim as possibilidades de controle territorial. Uma vez dominadas, os colonialistas elaboraram uma construção social das etnias, privilegiando o acesso ao poder, privilégios de certas etnias e subestimando outras  como as mais frágeis e incapazes de realizarem determinadas tarefas do interesse colonial a não ser por coação física (uso da violência física e trabalhos mais penosos) - é o caso por exemplo da política colonial belga no Ruanda que criaram condições de conflitos recentes entre os hutus e tutsis (para entender com mais detalhes veja o filme Hotel Ruanda no arquivo do blog).
Assim, os Estados Coloniais foram criando alianças com chefes  locais considerados  "grandes homens localmente" e  incorporando etnicamente algumas  unidades administrativas vinculadas à população local criando um tipo de relações patrão-cliente. Isso foi reforçado por uma preocupação burocrática com a demarcação territoral ,  busca de legitimidade política e sujeição das populações locais.  Daí que afirmo que  as Etnias foram construidas socialmente pelas  elites coloniais que procuravam a base para uma modernização conservadora.  O interessante é que este  legado colonial de autoritarismo burocrático assentes nas relações patrão-cliente e numa dialética complexa de fragmentação étnica, assimilação e competição tem persistido em sociedades pós-coloniais africanas . Existem redes clientelistas na articulação Estado-Sociedade  em vários países africanos apesar de nem sempre serem de carácter étnico e isto tem a ver em parte com a racionalidade patrimonialista dos Estados africanos e também  com a savalguarda de  interesses políticos (manutenção no poder). Assim, explica-se o caráter personalista, materialista e oportunista do poder político em África  originando em alguns casos os conflitos políticos. Essas redes também penetram nas instituições da sociedade civil e da democracia liberal, minando  consequentemente os vários  programas de reforma sócio-econômica e política. Assim, vai-se construindo os Estados-Nação em África.

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