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23 setembro 2012


D. JAIME E 4 DE OUTUBRO: A PAZ É DOS MOÇAMBICANOS
Dom Jaime Pedro Gonçalves

O MEDIADOR das conversações de Roma, na Itália, D. Jaime Pedro Gonçalves, considera que a paz que se vive no país, há já 20 anos, é para todos os moçambicanos do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico.

Falando recentemente na Beira numa “Aula Aberta” promovida pela Universidade Católica de Moçambique (UCM) sobre “A busca da Paz para Moçambique”, o antigo arcebispo da Beira fez uma longa descrição do período que antecedeu a assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP), no dia 4 de Outubro de 1992, rubricados pelo antigo Chefe do Estado, Joaquim Chissano, e pelo líder da Renamo, Afonso Dhlakama.
D. Jaime começou por recordar que em 1987 o arcebispo de Maputo, D. Alexandre, e ele próprio, na sua capacidade de arcebispo da Beira, assumiram a missão de contactar a Renamo, enquanto o presidente da Conferência Episcopal, D. Paulo, e outros bispos entravam em contacto com o Governo.
Em Julho de 1990 iniciaram-se os contactos na procura da então guerrilha, o que culminou num encontro com o líder o seu, Afonso Dhlakama, nas matas da Gorongosa.
Mas em Fevereiro e Agosto de 1989 tinha havido dois encontros com representantes da Renamo, em Nairobi, capital do Quénia, cujo nome não adiantou.
O prelado revelou ter realizado várias viagens à Europa, sempre à procura dos elementos da Renamo, tendo, inclusivamente, travado um breve encontro, num restaurante de Lisboa, com aquele que apelidou de um esforçado político, Máximo Dias.
Depois de várias incertezas, D. Jaime Gonçalves disse que, finalmente, conseguiu realizar uma viajem nocturna para Gorongosa, utilizando para o efeito uma avioneta de tipo “Dakota” com apenas um piloto e no meio de muitas caixas, tendo encontrado Afonso Dhlakama numa pista iluminada com fogueiras feitas por antigos guerrilheiros da Renamo.
“Ele (Dhlakama) levou-me numa motorizada, circulámos pela mata adentro. Então, ele disse-me: Olha, senhor bispo, nós estamos cansados desta guerra. Veja isto está tudo destruído. Nós queremos paz, porque estamos a sofrer muito”-narrou D. Jaime, citando Dhlakama.
Tal afirmação, segundo ele, veio dar um grande alento à sua missão.
Regressado das matas, voltou-se à diplomacia com o Malawi e Portugal a serem apontados como os locais do diálogo, mas porque havia desconfianças mútuas, o Vaticano disponibilizou-se para albergar as conversações.
No dia 9 de Maio de 1989, o presidente Chissano anunciou oficialmente, em Washington, nos Estados Unidos da América, que estava disposto a negociar com a Renamo para paz em Moçambique.
Em Maio de 1990 houve então uma proposta oficial da Renamo para que D. Jaime Gonçalves pedisse ao Governo da Itália, através do Vaticano, para acolher as conversações com o Governo de Moçambique.
A primeira intervenção do Vaticano foi de disponibilizar uma sala para as conversações e a emissão de um passaporte para Dhlakama.
O problema de fundo, na versão do palestrante, é que havia desconfianças de ambos os lados mas “nós devíamos convencê-los a ultrapassarem esta dificuldade”.
Um segundo problema surgiu quando o mundo soube que Moçambique estava em conversações para a paz.
Apareceram, então, muitos interessados em acolher as conversações como americanos, ingleses, franceses, alemães e até sul-africanos, estes últimos identificando-se como potência africana.
Respondendo a algumas inquietações da plateia sobre a existência ainda de homens armados da Renamo nas matas de Marínguè, passados que foram 20 anos de paz no país, àquele dirigente da Igreja Católica indicou que a questão da formação das Forças Armadas em Moçambique mereceu muita atenção durante as conversações para assinatura do Acordo Geral de Paz.
Com efeito, revelou ter ficado decidido em Roma, entre os antigos beligerantes, que o novo Exército moçambicano devia ter um número igual de elementos provenientes das extintas Forças Populares de Libertação de Moçambique (FPLM) e dos guerrilheiros da Renamo.
Na altura, segundo ele, foi definida ainda a nova designação em Forças Armadas da Defesa de Moçambique (FADM).
“Mas, na prática, o que aconteceu é que se voltou ao problema das desconfianças entre as partes”, enfatizou o antigo mediador para a paz no nosso país.
Maputo, Segunda-Feira, 24 de Setembro de 2012:: Notícias

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