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Caros amigos o blog Historiando: debates e ideias visa promover debates em torno de vários domínios de História do mundo em geral e de África e Moçambique em particular. Consta no blog variados documentos históricos como filmes, documentários, extractos de entrevistas e variedades de documentos escritos que permitirá reflectir sobre várias temáticas tendo em conta a temporalidade histórica dos diferentes espaços. O desafio que proponho é despolitizar e descolonizar certas práticas historiográficas de carácter eurocêntrico, moderno e ocidental. Os diferentes conteúdos aqui expostos não constituem dados acabados ou absolutos, eles estão sujeitos a reinterpretação, por isso que os vossos comentários, críticas e sugestões serão considerados com muito carinho. Pode ouvir o blog via ReadSpeaker que consta no início de cada conteúdo postado.

23 setembro 2012

A GRANDE MENTIRA DE KAULZA DE ARRIAGA


A GRANDE MENTIRA DE KAÚLZA DE ARRIAGA

Por  Jorge Fernando Jairoce
 
Em Abril de 1998, o General Kaúlza de Arriaga escreveu um texto descrevendo a trajetória da guerra colonial em Moçambique, porém, o seu texto revela uma verdadeira distorção da história. Arriaga afirma no seu texto o sucesso das operações militares portuguesas em Moçambique com destaque para operação Nó Górdio quando é sabido em Moçambique   (de acordo com os documentos históricos disponíveis) que os portugueses já não tinham condições de sustentar a guerra por mais tempo devido as várias razões: umas relacionadas com a acção da guerrilha da Frelimo que com o apoio da população alcançava bons resultados e outras relacionadas com o descontentamento das tropas portuguesas em Moçambique e Portugal. Aliás, não foi a toa que surgiu o golpe militar de 25 de Abril de 1974.  O texto por ele escrito representa uma manifestação do saudosismo colonial. Leia o texto  a seguir na íntegra  para perceber as mentiras de Kaúlza.

 
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A ESSÊNCIA E O SUCESSO DA CONDUÇÃO DA GUERRA  EM MOÇAMBIQUE NO PERÍODO DE 1969 /1973

Por Kaúlza de Arriaga -Abril de 1998

 
AS CAUSAS DA GUERRA EM MOÇAMBIQUE
A África Austral era sede de um conjunto de grandes jazidas de minérios essenciais à vida do Ocidente e ao seu esforço militar. Também, na África Austral, se situavam  posições geo-estratégicas das quais se podia dominar a rota marítima do Cabo, pela qual  navegava a maioria dos navios portadores de petróleo vindo do Golfo Pérsico, igualmente essencial ao Ocidente. A falta de tais minérios ou desse petróleo criaria dificuldades aos países ocidentais que se não sabia como ultrapassar.
Assim, e na estratégia ofensiva indirecta que a União Soviética, China Continental e seus satélites vinham a praticar, no âmbito da confrontação Leste-Oeste, a procura do controlo da África Austral não podia deixar de ser um objectivo importante e até prioritário. Esta a razão principal da agressão do imperialismo comunista a esta parte da África.
Semelhante agressão teve, como disposição prévia, concretizada em 1960, a infiltração e o predomínio desse imperialismo nos territórios adjacentes, a Norte da África Austral, à medida que se iam tornando independentes – Congo (Braza) depois República Popular do Congo, Congo (Kinshasa) depois República Democrática do Zaire, Tanganica depois Tanzânia e Rodésia do Norte depois Zâmbia. E logo, com base nestes países, se tentou o ataque a Angola e Moçambique, sob a forma de promoção da subversão das suas populações – 1º passo previsto da agressão em causa. Da queda destas duas Províncias Africanas resultaria a queda da Rodésia – 2ª passo previsto dessa agressão. Depois, satelizadas ou tele-satelizadas, a favor da URSS, Angola e Moçambique, estes territórios seriam excelentes bases de ataque à Namíbia e à República da África do Sul – 3º e 4º e último passos previstos para a mesma agressão.
Os países ocidentais que, com toda a evidência, deveriam em termos de justiça e no seu próprio interesse, ter apoiado, à priori e ab initio, Portugal, contra a subversão em Angola e em Moçambique, não o fizeram ou pelo menos, não o fizeram com grande clareza e empenho.
Por outro lado, a maioria dos Impérios Coloniais praticaram sistematicamente um colonialismo mais ou menos opressor e explorador, e não uma colonização fundamentalmente civilizadora e promotora da elevação, em todos os planos, das populações. Este facto deu legitimamente lugar ao desejo de auto governação das populações assim tratadas. E interesses que nada tinham com o colonialismo ou com a colonização, aproveitaram-no ampliaram-no e agudizaram-no, agora ilegitimamente, criando uma psicose, uma obsessão, terceiro-mundista, de independência, alheia à razão, a todo o custo e sob qualquer fórmula, descuidando consequências. A questão não dizia respeito a Portugal, em cujos territórios ultramarinos, depressa o colonialismo, onde e se e quando eventualmente existiu, foi substituído por uma sadia colonização. Razão pela qual as populações de Angola e Moçambique foram, na sua grande maioria, estranhas e contrárias à subversão, nunca tendo a parcela afectada dessas populações ultrapassado os 10% do seu total. Pela mesma razão, as tropas portuguesas acabaram por ter efectivos em que mais de 60% eram de etnias negras. Mas o mesmo não sucedeu com o Terceiro Mundo em geral que, impregnado das psicose e obsessão referidas, se constituiu em inimigo de Portugal.
 
A SUBVERSÃO E A CONTRA-SUBVERSÃO EM MOÇAMBIQUE

1º A SUBVERSÃO EM MOÇAMBIQUE
A) Como referi, o ataque a Moçambique do imperialismo comunista, no âmbito da  estratégia indirecta da URSS e da China Continental executada na confrontação Leste-Oeste, teve a forma da promoção da subversão naquele território.
Para tanto, elementos especializados, russos, chineses continentais e dos seus satélitas, trabalharam, do lado da Tanzânia e da Zâmbia, as etnias cujos "habitat" se verificavam de um e de outro lado das fronteiras daqueles países com Moçambique – como "Ajauas", "Macondes", "Sengas" e "Cheuas". Assim, faziam verdadeiras lavagens de cérebros à parte destas etnias não situadas em Moçambique, lavagens que com relativa facilidade contagiavam a parte das mesmas etnias situadas em Moçambique. Deste modo, formavam movimentos subversivos de que o mais importante, a partir de certo momento praticamente o único, foi a Frelimo.
E estes movimentos constituíam grupos, em regra pequenos, que, infiltrando-se noutras etnias do interior de Moçambique, procuravam subvertê-las. Esta tentativa de subversão incidia fundamentalmente nos chefes tribais ou chefes naturais, e seus acólitos, de etnias não subvertidas. E como, quase sempre ou sempre, estes chefes tribais ou chefes naturais e seus acólitos, não aceitavam subverter-se, eram logo ali assassinados – nos  quatro anos em que exerci o Alto Comando em Moçambique, sobretudo a Frelimo  assassinou cerca de dois mil daqueles chefes e acólitos. Era uma acção de terrorismo intensa e extensa.
Curiosamente este terrorismo, em Moçambique, não abrangia a população branca, não tendo, que se saiba, nos referidos quatro anos do meu Comando, sido morto ou sequer atacado branco algum da população moçambicana, nem tido lugar qualquer acto como  bombas em cidades e aviões ou desvio destes, etc.
Era um terrorismo de pretos das etnias fronteiriças, já subvertidas, contra pretos, de  etnias do interior, não subvertidas e que nunca chegaram a sê-lo.
B) Paralelamente, a esta tentativa de subversão e considerada dentro dela, a Frelimo procurava, também por impulso de russos e chineses e elementos dos seus satélites,  conseguir áreas territoriais, muito próximo das fronteiras, mas do lado de Moçambique,  onde, organizando-se muito fortemente do ponto de vista militar, pudessem resistir às  acções das nossas forças. Considerava essas áreas como bases, "áreas libertadas" e,  partindo delas, sonhava progredir significativamente para Sul.
De facto conseguiu que algumas suas chamadas "bases", menos de uma dezena –  situadas entre os rios Rovuma, fronteira coma Tanzânia, e o rio Messalo, a mais de dois  mil quilómetros a Norte de Lourenço Marques-, se mantivessem algum tempo. Mas  todas elas foram conquistadas, ocupadas e destruídas com a Operação "Nó-Górdio" e  outras operações que imediatamente a precederam e se lhe seguiram, no Verão de 1970,  em cerca de dois/três meses. E nunca mais voltaram, ali ou em qualquer outro ponto de  Moçambique, a ter lugar.
C) E, ainda naturalmente, a Frelimo procurava impedir as nossas acções de  desenvolvimento do território e de promoção e segurança das populações. O que, de  todo, não conseguiu fazer.
 
2º A CONTRA-SUBVERSÃO EM MOÇAMBIQUE
De acordo com a doutrina, que eu próprio estabeleci quando Professor no Instituto de  Altos Estudos Militares, a contra-subversão portuguesa em Moçambique tinha os  seguinte objectivos:
a) A eliminação, caso existissem, das chamadas "áreas libertadas". Foi o caso da  Operação "Nó-Górdio" e daquelas que imediatamente a procederam e seguiram.
b) A segurança e defesa de pontos especialmente importantes ou sensíveis, como foi o  caso de Cabora-Bassa.
c) O desenvolvimento do território e a promoção e segurança das populações, aquela  promoção sobretudo nos aspectos de educação, de assistência médica e para-médica,  económico-financeiro, cívico, político, etc.
d) O combate a quem procurava ampliar a subversão e impedir aqueles  desenvolvimentos do território e promoção e segurança das populações.  Em consequência:
a) Executou-se a operação "Nó-Górdio" e as que a precederam e se lhe seguiram, com  a eliminação total das chamadas "bases" da Frelimo – "áreas libertadas".
b) Defendeu-se Cabora Bassa com 100% de êxito.
c) Construiram-se Aldeamentos – mais de mil – com as suas escolas, os seus centros de  saúde, as suas explorações agrícolas, os seus centros de convívio, etc. d) Lançou-se a Operação Fronteira, de construção, em moldes modernos, de uma série de Vilas ao longo do rio Rovuma, fronteira com a Tanzânia.
e) Impulsionou-se fortemente o acesso às Escolas, incluindo a Universidade, de  africanos.
f) Desenvolveu-se um sistema eficaz de Assistência Sanitária Generalizada.
g) Nomearam-se vários Presidentes de Câmara africanos.
h) Constituiu-se uma Assembleia Legislativa Provincial, em Lourenço Marques,  formada por 50% de brancos e 50% de africanos.
i) Melhoraram-se e construíram-se milhares de quilómetros de boas Estradas, centenas  de Aeródromos e Pistas, e não poucos Portos de Mar.
j) Ampliou-se o sistema de Auto-Defesa das Populações, em que estas, com armas que  lhes eram fornecidas pelas nossas forças, tratavam de expurgar por si próprias o seu  "habitat" de quaisquer infiltrações subversivas ou grupos subversivos que ali se  tivessem formado.
k) Criaram-se os GE e GEP, Grupos Especiais e Grupos Especiais Paraquedistas,  constituídos por voluntários africanos das diversas etnias ou dos diversos aldeamentos,  altamente treinados no combate e no contacto com as populações.
n) Etc.
 
3º CONCLUSÃO
A subversão, tentada pela URSS, China Continental e seus satélites, através sobretudo  da Frelimo, foi um fracasso.  Esta Frelimo esteve na iminência do colapso total, logo após a Operação "Nó-Górdio",  e estava na eminência de igual colapso, quando eclodiu o "25 de Abril" em Lisboa.
Pelo contrário, a contra-subversão realizada por Portugal, como indicado, baseada nas  populações e em forças mistas brancas e africanas, constituiu um êxito total.
Assim, Portugal venceu, em Moçambique, a URSS, a China Continental e os seus  satélites, fomentou grande desenvolvimento do território, conseguiu muito significativa  promoção das populações e garantiu a segurança destas.
E, aquela contra-subversão, além do seu pleno sucesso, fez com que, em 1997, um  membro importante do actual Governo de Moçambique tenha declarado considerar que  a guerra, que eu, Kaúlza de Arriaga, ali, então, conduzia, correspondia à concretização  do sonho do Homem Africano Moçambicano. E fez com que, em 1998, o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Moçambique, estando em Lisboa, em jantar que me ofereceu, no Hotel Tivoli, me convidasse, em termos oficiais, para visitar oportunamente Moçambique.
 
2ª GERAÇÃO DA FRELIMO
A Frelimo, principal movimento subversivo e, a partir de certo momento praticamente o  único, foi criada, mantida, recreada, mentalizada, treinada e conduzida pela URSS,  China Continental e seus satélites – o imperialismo comunista. O pensamento da  Frelimo era o pensamento da URSS e da China Continental. E as suas acções eram  determinadas pelas mesmas entidades. Foi a 1ª Geração da Frelimo.
Havia, porém, na Frelimo quem não concordasse com tal subordinação à URSS e à  China Continental e com as acções decorrentes, e havia, mesmo, quem não concordasse com a sua existência na forma comunista que tinha. Contudo as imposições da URSS e da China Continental tudo dominavam.
Mas, a URSS desapareceu e a China Continental deixou de intervir em África. E uma 2ª  Geração da Frelimo, liberta de russos e chineses e seus satélites, começou a surgir e a  pensar e a agir por si própria.
E esta 2ª Geração apercebeu-se de quem tinha razão na luta que, de 1964 a 1974, teve  lugar em Moçambique. Apercebeu-se da razão de Portugal e do bem, enorme, que este  estava a fazer em favor de Moçambique e da sua População.
E a mesma 2ª Geração, da qual não poucos dos seus membros estiveram presos pela 1ª  Geração, tem já numerosos elementos seus nas chefias moçambicanas, como Ministros,  Generais, Embaixadores, etc. É um facto de importância histórica.
Assim, se explica a afirmação, atrás citada, de um actual membro do Governo de Moçambique – " A guerra, que o General Kaúlza de Arriaga ali conduzia, correspondia  à concretização do sonho do homem africano em Moçambique". Assim, se explicam as  excelentes relações que eu, Kaúlza de Arriaga, mantenho, em Lisboa, com o actual  Embaixador de Moçambique. Assim, se explica o calorosamente amigo encontro da  minha pessoa, Kaúlza de Arriaga, com o General Chefe do Estado- Maior da Força  Aérea Moçambicana e o Tenente-Coronel seu Chefe de Gabinete, ocorrido na recepção  oferecida pela Força Aérea Portuguesa, em Sintra, em Junho de 1997, e no almoço  oferecido pela mesma Força Aérea, na messe de Monsanto, em Julho seguinte. E, assim  se explica o tão significativo convite, atrás referido, que, em Março de 1998, me foi  feito, empenhadamente, pelo Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Moçambicanas, para, oficial e oportunamente, visitar Moçambique.  

2 comentários:

Anônimo disse...

Onde estão as mentiras?. Curioso, só vi verdades!

Carlos F. disse...

Caro Jorge,

Tem que concretizar a sua argumentação, olhe que muitos guerrilheiros da Frelimo, inclusivamente Joaquim Chissano, não só salientam que a operação No Górdio teve impactos importantes na estrutura da Frelimo, assim como sublinham o bom estratega que foi o Kaúlza. Repare ainda que o próprio Samora Machel, num documento datado de início de 1974, previa mais 10 anos de ação armada porque considerava que o inimigo (o exército português) estava e pedra e cal em Moçambique.
Creio que o contexto internacional e o mal-estar nas Forças Armadas portuguesas é que foi de facto mais importante para a queda do Estado Novo. Mas esse mal-estar teve também muito de político e de corporativo, não se deveu somente à guerra.

Bom mas isto é um assunto muito complexo que não discute em algumas linhas.

Espero que aceite a crítica de um português que nasceu em 1982 e que não tem qualquer ligação familiar com África, ou seja, cujo interesse na manutenção dos estados ultramarinos é quase nula.

Um abraço.